SER EU MESMO

Ser isso ou aquilo. Eu tenho que ser amada, aceita, reconhecida e famosa. 

Tenho que ser simpática, alto astral, saudável, informatizada e informada, legal , companheira, tá sempre vibrando positivo, ser bonita, estar bonita, viver todo o tempo feliz, ser um sucesso, decidida, ter dinheiro, ser virtuosa, bem sucedida, ser jovem ou parecer jovem, ser tranquila, profissional irrepreensível, não ser preconceituosa, ter fé, ser solidária, animada, inteligente, espirituosa, amiga, ter consciência e prática ecológica, sorrir sempre, ser cheirosa, acho que eu devo ter esquecido de mais um milhão de "qualidades" etc enfim viver o ilusório buscando a perfeição.

Isso cansa!!!

Caraca eu quero ser eu mesma, ficar de bode, andar de pijamas, mandar tudo a pqp, estar cansada, indisposta, falar o que eu realmente penso, rir com vontade, estar desanimada, ser debochada, achar que tudo pode dar errado, irreverente, ser sincera, falar muito alto,  ansiosa, relaxada, sonhadora, imediatista, autêntica, não ter paciência, ser uma bosta.

Quero o meu coração a milhão, não conseguir respirar, ficar fora de controle com paixão ou sem paixão.Quero isso, senti-lo bater no meu corpo normal sem acréscimos falsos. 

Assumir todas as vicissitudes da minha pessoa, criada a imagem e semelhança do meu criador.

Humanamente imperfeita e incondicionalmente livre.

Pizza de Kibe

É interessante como algumas coisas se perdem no tempo. Meu avô deve ter chegado por aqui em terras brasileiras em meados da primeira década do século 20. Vinha do Líbano, ao que se sabe com 16 anos e acompanhado de um primo, em verdade o destino era a América, mas por alguns revezes que jamais saberei, acabou desembarcando no litoral de São Paulo.

O jovem libanês ou turco como era conhecido, certamente passou por poucas e boas, basta pensar em Oriente e Ocidente para depreender que essa migração solitária e precoce foi dura, mas não o suficiente para desencorajar o garoto.

Existe um hiato nessa história, o período em que ele se estabelece na cidade de Santo André no ABC paulista, até conhecer a minha avó.

A moçoila italiana que casou-se com o libanês e atravessou todas as dificuldades que o início do século impunha. Trabalhou por uma vida em uma tecelagem, indicativo da industrialização no "viveiro industrial" que a cidade se transformava.

Alimentou seus oito filhos, inclusive amamentando os mais novos no exíguo intervalo do almoço. Como se vê as coisas foram alicerçadas tijolo á tijolo, unidos na dignidade forjada em muito trabalho.

Aos domingos, apesar da dureza, além dos dez ACHUI ("irmão de" Jeshua em hebraico antigo) vinham compartilhar da pobreza, ou melhor da alegria e da riqueza de caráter da grande família, os primos e alguns parentes que desfrutavam da pasta da nona e de uma única garrafa de vinho e em algumas vezes um pedaço de cordeiro assado.Há quem diga que o cacho de banana ficava suspenso por sobre a mesa e assim garantia um fruto para cada um.

Assim, cresceram os descendentes sem sapatos para todos, dividindo o uniforme escolar, mas sem nunca abandonar a escola, enfim devidamente alfabetizados.

O velho Kibe atravessou a vida, ou melhor as ruas da cidade como Mascate vendendo enxovais e artigos de armarinho, pode-se afirmar que seria bem sucedido se não fosse por um detalhe: o vício lhe consumia todas as reservas. Passava noites em mesas de jogos, mas ainda sim a decência estava acima de qualquer coisa.

Morreu com todos os dentes na boca sem nunca usar uma escova, apenas esfregando sabão de côco.

Minha avó, a Pizza de olhos azulinhos e birote bem penteado, guardava algum ressentimento do velho Kibe dificultando que ele transmitisse a sua cultura, as histórias das mil e uma noites para seus meninos.

Contudo, ao que parece a primogênita da família guarda alguns documentos e lembranças que juntas formam um belo "mosaico" (herança das mil e uma noites rsrsrsrs). Esse arquivo vivo de noventa anos é a prova contundente de que a inusitada Pizza de Kibe dá certo.

Bom,a família cresceu,multiplicou-se cada um a seu modo conquistou seu espaço;engenheiros, médicos,jornalistas,administradores,advogados professores e toda sorte de profissionais.

Quanto a árdua jornada do Kibe e da Pizza estabelecida lá atrás, foi dando lugar ao conforto  para aqueles que chegaram até aqui.

A mim, sobraram raras lembranças, algumas enuviadas já que era muito criança quando ele, o Kibe se foi, mas o bigodinho talhado a Rodolfo Valentino, olhos negros profundos e um terno escuro acompanhado de um chapéu são coisas que me marcaram. Me lembro, com clareza do meu avô pegando minhas mãozinhas e me levando ao pipoqueiro da praçinha onde morava.


É... a vida não foi um "mar de babaganuche ou berinjela a parmegiana".

Anjo Torto

Fosse ela um Anjo Torto, é por isso que não está mais aqui. Por aqui, apenas penas, penas das asas tortas, pena de ter deixado a vida como a conhecemos. Foi embora. É que o Anjo Torto tinha uma sede enorme de vida, uma enorme carência de amigos, estava eternamente em busca de ambos: Vida e Amigos. Esse anjo bêbado, debochado, irreverente , orgulhoso e cheio de pecados humanos preenchia a vida de muitos com Alegria de quem sabia que a VIDA era passageira ou será que o Anjo era passageiro da VIDA? Jamais saberemos...

O fato é que vôou em mais uma das suas surpreendentes viradas, como a do Anjo barroco gordinho para Anjo magro atlético. Quando vôou deixou para trás a imagem do copo vazio,numa típica despedida ao som de blues etílicos.
A mim, tinha confessado suas peraltices terrenas, sabia que aqui estava cerrada as suas verdades. Aqui na terra fomos parceiras de muitas sandices, outras coisas sérias e outras etéreas.
Meninas da Terra, taurinas típicas, pelo menos eu pensava até que descobri que touro não tem asas; eu não tinha, mas ela, ela tinha uma asa enorme que voava com toda liberdade permitida ou não. Era um Anjo Rebelde Torto, às avessas. Doce, cálido, duro e amargo quando necessário, porém sempre humano, esse Anjo Torto. 
O Anjo Torto disfarçou muito bem para todos, causídica, circunspecta e focada durante o dia. A noite, pés no salto alto e penas para todo o lado, as asas não podia esconder... Vôou alto e deixou nos para atrás sem pena, sem dó, danada esse Anjo Torto.
Foi convocada por ELE que deu por encerrada sua missão: Emprestar alegria por onde passava. 
E assim, sem pestanejar ela Renata, aquela que renasce,foi para outro lugar, mais celestial apropriado para um Anjo.
Ah! sim legou a eternidade de seu Amor Amigo na forma de esfuziantes lembranças com enormes gargalhadas.

- Máarrrcia, prefiro a comédia ao drama. Eu sempre soube disso Fabi.

A CASA VERDE

A casa verde é assim: ampla, iluminada, arejada e chega a ser imponente. A casa verde vai muito além de um amontoado de tijolos, ela guarda dentro de si uma exuberância de emoções. Ecoa na casa verde gargalhadas, porque ela tem essa vocação festeira, também uma melancolia breaca, permeada de VINHO VERITÁ. Um certo viés meio dramático a la Pavarotti. Paixões, enfim paixões. Há um lugar em especial na casa verde que é o seu timo, seu coração, o músculo que tudo faz acontecer. Coração esse chamado de Therezinha, tão miúda no nome e espaçosa na vida. A sapiência debochada ao falar é sua marca mais contundente. Esse coração arrebata inúmeros discípulos com sua displicência acolhedora.É um coração tanto gabola, já que sabe que seduz aqueles que a cercam com seu jeitão alegre superlativo; ou tudo está terrível ou tudo é lindíssimo; um jeito Cazuza de comunicação. Aliás, exagerada é uma palavra não só da retórica, exagerada nos gestos, na voz, na mesa, nas cores. Do vestido azul com passáros que vestia as ancas largas e as pernas torneadas da morena brejeira. Hoje, no entanto ela diz que anda meio "estorta", um "dindo" caída e um "trisco veiaca". E com toda propriedade que lhe é conferida , acertivamente brada: Ficar velho é uma merda!!!Coisa que concordo em gênero número e grau. A música de Vinícius lhe cai muito bem: É MELHOR SER ALEGRE QUE SER TRISTE, A ALEGRIA É A MELHOR COISA QUE EXISTE É ASSIM COMO A LUZ NO CORAÇÃO...Esse coração verdadeiro e espontâneo abriga generosamente toda sorte de personagens quer sejam familiares, agregados, amigos, vizinhos, amigo dos amigos, enfim neste universo ímpar o coração da casa verde exagera no espaço amigo, mas não pensem que todos o desfrutam ,só aqueles em que sua luz ilumina.

E caraca eu faço parte disso tudo, Amém!!!!

Para Amiga Terê 70: minha tia e madrinha com todo carinho e respeito.

DENTE DE LEÃO

Em algum momento da vida desejamos ser alguém ou alguma coisa diferente do que somos.

Ás vezes desejo ser um Dente de Leão. Nascem assim despretensiosos e desprendem-se como minúsculos seres alados,são anjos felizes flutuando para longe da maldade do mundo.

Nunca resistimos a tentação de assoprá-los, é como se pudéssemos ir junto ao sabor dos ventos.

A leveza conferida à essa singela flor é que magicamente me comove. Porém, engana-se aquele que deposita nela a aparência de fragilidade, porque ela existe e resiste em lugares inusitados como na fenda de uma calçada.

É aí, nesse lugar inapropriado que deita sua beleza, muitas vezes em meio ao caos. Se a imaginação tem forma, deve ser tal e qual um Dente de Leão que nos transporta para lugares azuis;celestiais.

Essa limitação humana com a falta ou ausência de asas é que me aproxima dessa flor, já que o desejo de voar é inerente ao de liberdade e a plenitude se realiza quando se é livre.

Quem sabe um dia receberei ao invés das ingratas rosas vermelhas um despretensioso buquê de Dentes de Leão.
Ah! como são inspiradoras essas flores Dentes de Leão. Voei...
                      Ao Sr Cartola.

INIMIGO EU

Se algum dia perguntarem se eu tinha algum inimigo, algum desafeto, já podem responder que ao menos que eu saiba, declaradamente esse inimigo SOU EU. Eu que deflagrei tanto sofrimento inútil, medo, tristeza, náuseas, ansiedade, noites em claro, melancolia, dores e angústia de quem tem em si uma filigrana de drama.

Arrastou-se durante décadas, até perceber como eu me saboto todo o tempo. Quanto mal eu faço a mim mesma, mas paradoxalmente agora sei como lidar com o meu grande inimigo, ou melhor com a minha grande inimiga.

Peleja conviver com o inimigo, que por vezes camuflado,torna-se companheiro, amigo e passamos a acreditar que viver no caos, sob a égide do medo, é suportável.

Na verdade, ainda aprendo algumas táticas e estratagemas, momentos certos de atacar e recuar. Contudo, a vigília é uma constante que tira a minha paz, perturba a minha vida, embota os meus pensamentos, suga a minha energia vital. Esgota.

Em muitos dias a distância do riso para lágrima é apenas uma pulsada do coração. Da razão para a paixão, um suspiro. Do enfrentamento para o medo, uma piscada.

Somos uma caixa hermética que ninguém além de nós mesmos conhecemos seu conteúdo, mas podemos deixar o sol lamber seu interior, queimar o mofo espantando os fantasmas.

A certeza da solidão um grande equívoco, o poeta Agenor consagrou que "a solidão é para quem fica escondido fazendo fita".

O passo é lento, duro, sofrível como uma estrada sinuosa ladeada de paisagens exuberantes, mas de destino incerto. A vida é assim mesmo, incerta. Se tento controlar, vem o descontrole.
Aceitar que o desequilíbrio é o equilíbrio, ainda é uma alternativa porque o caminho continua.

Não se é unanimidade em quase nada. Não se é tão bom, tão bonito, tão perfeito, forte. CRISTO QUE O DIGA.
Enfim, nada, nem ninguém pode lhe fazer mal, exceto se você permita. 

IRRITAÇÃO

Irritação é uma coisa que acompanha o genêro feminino. Sabe-se lá por quê? Pingo vira tempestade, enfim ...
Num desses gloriosos momentos que poderiam terem sido subtraídos da vida, ainda encontramos alguém irritante o bastante para perguntar por quê você está irritada.
Ser irritante não é para qualquer um, carece de um dom, uma aptidão inata.
Hoje fui interpelada por uma dessas figuras que cercam nossas vidas. Longe de qualquer traquejo social, na verdade, com aquele sorrisinho amarelo, sacana, provocador, me interpelou com a clássica pergunta estúpida:
- Você está irritada querida?
Bom, se eu não estivesse acabaria ficando, porque querida é outro adjetivo que tornou-se banalizado. Querido para mim, é algo desejado, benvindo, amoroso e não político.Diplomacia chula, como se estivesse realmente empenhado em ajudá-lo. No máximo está preocupado em saber o que acontece com você para depois reproduzir em outro canto qualquer.Esse nhé nhé nhé é muito irritante, pelo menos para mim.
Francamente, gosto de pessoas que quebram o clima, mudam o rumo, subvertem o status, assolam você com uma piada e de repente a gente tá bem de novo, longe da irritação.

OVOS ESTRELADOS

A hora das refeições é um momento muito bom, principalmente quando agrega uma mesa rodeada de gente e um falatório animado. Sentar no entorno da mesa transpassa o prazer, é muito mais significativo.

Há muito, é na mesa que resolvem-se grandes questões.

Quanto a mim, descobri que na mesa, encontro também a beleza cotidiana,uma beleza que precisamos estar com olhos aguçados e alma aberta, já que a rotina, por muitas vezes, devora as sutilezas do dia a dia.

Nas segundas feiras quando coloco "aquele" feijãozinho gordo(costelinha, um pedaço de bacon ou linguiça) na panela de pressão e ouço a danada resfolegar no fogo, me dá uma satisfação enorme. Depois, refogar o arroz e antes de terminar o cozimento pegar uma colherada, acho uma delícia. Para acompanhar um bom legume ou uma verdurinha também refogada.

Destaque mesmo vai para os ovos estrelados, simplesmente lindos, me lembra o sol, alguém sorrindo sei lá... Chega a ser estimulante, é vida em sua concepção literal, além de perfeitos, chegam a ser decorativos.

Ovos estrelados reproduzem as delícias das trivialidades, trivialidades que encantam. Momentos delicados de dedicação. Maneiras simples de amar.

A árvore, o gol e o livro

Quero me recostar. Imagino uma árvore, mas não uma árvore qualquer. Uma grande árvore solitária sobre uma colina, emanando fortaleza e mansidão. Abrindo libertária seus galhos e farfalhando folhas nos meus ouvidos. Descanso.

Venho empreendendo um certo esforço em manter vivas as poucas plantas que tenho. Mirradas, equilibram-se dentro do vaso, acaba parecendo que cuido apenas de terra.

Teimosa, sei que as minhas mãos ficam confortáveis apenas na água. Penso, quem sabe, se algas marinhas não floresciam melhor. Abandonei a idéia da árvore.Montei um aquário.

No jogo me sinto sempre um lateral, correndo além das pernas, ganho para o artilheiro banheirista que fica com o gol, a glória e principalmente a acalorada onda de som da torcida. Impagável. De fato, meu marketing pessoal anda em baixa, um aqui, outro acolá, acolhe meu esforço, mas é só. Agora jogo conversa fora.

Organizo palavras para fazer graça, distrair a mente, passa tempo.

O livro, tenho certeza, que todas as histórias já foram escritas,lidas, mas surpresa, descubro que ler e escrever, como na prática didática, se renova e cria-se no dia a dia e de diversas maneiras.

"Acordamos lendo o mundo e reescrevendo da forma como o compreendemos" Não estou bem certa, nem quanto ao autor muito menos ainda quanto ao teor, acredito que a citação é de Paulo Freire, bom se ele não disse assim, ao menos eu entendi dessa forma e é exatamente isso que importa.

Então, não recuo, a idéia permanece aqui, despretensiosa, agora em forma de blog.

"Tenha um filho, plante uma árvore e escreva um livro." Parece fatalista demais, vejamos: Feito isso descanse na eternidade????

IRMÃ ESTRELAR

A irmã de um sorriso inebriante e olhos tristes herdados da mãe. Diferentes no fenótipo e o mundo interior nem se fala, cresceram sobre a mesma sombra de uma generosa árvore que soube preservar as diferenças de seus brotos.

A irmã era LUA ESTRELA, brilhava com sua presença sorridente, sempre cercada de pequenos astros a cirandar em seu entorno. Lá com a cabeça no céu, alçando sempre vôos altos, alimentava seus sonhos igualmente repletos de riquezas temporais e celestiais. Reservava dentro de si um coração aberto sem julgamentos, havia espaço apenas para o curso da sua estrada, e dessa forma seguia como toda estrela solitária.

A irmã TERRA SOLAR, muitas vezes , ressentia a falta da LUA ESTRELA pois, precisava muito de sua presença para controlar os arroubos da maré da vida, mas LUA ESTRELA empreendia num caminho sempre distante.

Encoberta por uma atmosfera pouco favorável, poluída pelo desencanto da vida; LUA ESTRELA se viu com o sorriso esmaecido e o coração assim deixou de ser sonhador e criou-se rijo, enérgico. LUA ESTRELA não perdeu seu encanto, mudou.

TERRA SOLAR, assolada por milhares de explosões, mais que nunca queria estar junto de LUA ESTRELA, sua única irmã. O magnetismo incontrolável dos astros irmãos suplantaram a distância do dia e da noite e se encontravam fugazmente, ora no crepúsculo, ora na aurora.

As primordiais diferenças tornaram-se vento estrelar e se espalharam em cintilantes lufadas em um céu de infinito e profundo azul de admiração e respeito mútuo. Enfim, o planeta fraterno completava a sua harmonia sem a qual não é possível realizar a plenitude da vida.

No entanto,pensando em estar finita a dinâmica planetária, LUA ESTRELA surpreendendo, descobriu-se prenha,fértil de estrelinhas e deu á luz a um astro ainda mais belo e sorridente que a própria matriz.
E tudo novamente mudou, como tem que ser.

TERRA SOLAR nas asas dos ventos estrelares também pariu de alegria um belo solzinho que partilha e desfruta a companhia da estrelinha. E por essa razão que hoje, LUA ESTRELA e TERRA SOLAR ao menos esforçam-se por navegar pelo Universo de maneira mais próxima.

Conspiram juntas, enfim deu-se o encontro.

Com amor para o pé de patalhão.

FACEVÍRUS

Uma vitrine acessível onde democraticamente qualquer pessoa mostra como é legal; como as coisas que faz são interessantes; como ela é inteligente colocando frases prontas e perfeitas; como está bem, bonito e resolvido, enfim, no cerne de tudo ainda tem a vertente de que todos os seus "amigos" te curtem, aprovam, mesmo porque jamais diriam o contrário numa rede tão extensa.

Contaminado por essa forte onda virulenta, passam a procurar incessantemente a aprovação do próximo, no caso aqui do distante, do outro lado da tela. Desejam ser curtidos, contudo ao que tudo indica curtir pode ser: curtir o couro para que ele não apodreça ou ainda padecer, sofrer. Uau!!!!!

É de tamanhas proporções o contágio que ele; o FACEVÍRUS quer o tempo todo saber o que você está pensando.

Numa reação imediata o organismo invadido e subjulgado, combalido pelos apelos midiáticos, em um espasmo expele num jorro de palavras qualquer coisa que parece ter sentido.

Até inexpugnáveis senhores e senhoras quando assolados pelo micro ou melhor macro organismo, desnuda-se, desinibe-se e solta-se inocente como uma pipa nos céus infindáveis da rede. Realmente impressiona!

Restam para mim algumas indagações: Prestação de serviço ? Fonte de informação? Exposição gratuita e máxima? As pessoas estão preocupadas em serem vistas por um BBB sem tempo predeterminado para acabar? Ao menos o tão desgastado BBB judia por somente 3 looongos meses.
Que me perdoem aqueles que estudam fenômenos de massa, talvez esteja equivocada, mas ainda não consegui compreender como se mobiliza tantos para tão pouco.

Como no mar, sob as ondas é que está o rico e verdadeiro mundo marinho, as ondas são apenas aquilo que sem nenhum esforço podemos ver: A Superfície. É o imediatismo atual.

Nas minhas reflexões domésticas e despretensiosas, conclui que todos querem seu centesimal momento de reconhecimento e glória e buscam apenas diversão. Seria, portanto, mais um escape da realidade já tão "curtida".

Também eu fui contaminada....Ah! se você não coçar passa.

TATUAGEM

O verão sempre me faz muito feliz !! Época de prazeres, preguiça, alguns excessos, mas tudo sem culpa, porque no verão parece não existir o pecado.
O verão te lambuza como o sorvete que escorre tranquilo pelo canto da boca; o sol que invade sua privacidade e desnuda não só os corpos nas praias ou qualquer outro lugar que busquemos refresco. Com sua luz vibrante e amarela penetra pequenas frestas que deixamos abertas na alma e resgata uma felicidade que se abrigava até então na sombra.
Penso em tatuar um SOL na minha perna, mas mudo logo de idéia, porque carrego comigo a convicção de que tatuagem é algo que trazemos dentro do peito, ali mesmo no coração ou ainda em suas memórias. Coisas que ti faz sorrir sózinho quando pensa nelas. O verão é assim mesmo, um estado de espírito; despretensioso, despojado. É uma onda que mesmo que você não queira, te embala, como as músicas do Tom ou ainda de Vinícius.