sábado, 18 de setembro de 2010

"CUANTO MENO BULTO MÁS CLARIDAD"


Simplesmente, adoro esse dito espanhol repetido incansavelmente pelo meu dileto Padrinho Auré.
Tudo começou quando passamos a ir, com uma certa frequência, para Bertioga, no final dos anos 80, começo dos 90. Uma casinha de pescador isolada, mar só nosso, vielas de mato, sapos, muita, muita rã, cobras entre aranhas, escorpiões, lagartos e toda fauna e flora de um litoral ainda preservado. Uma amplidão de céu e mar sem fim, tanta liberdade, tanto ar que chegava a sufocar. Nem sei bem explicar...
Enfim, o refúgio da chatice da vida. Lá éramos nós mesmos, meu Padrinho, o heróico Dom Quixote, minha Madrinha, a bem humorada gatona anos 80 e eu como sempre a inabalável garota de 20 e poucos anos. O silêncio do lugar era tão envolvente que convidava a reflexão e nos remetia cada qual a seus próprios pensamentos.
Filosofávamos junto ao por de sol, apenas nossas três sombras perfiladas em frente ao mar e metros e metros de praia sem viva alma. Embora, com toda a exuberância da natureza ao nosso redor, de maneira egoísta, havia alguns momentos em que sentíamos a falta de outros, quando providencialmente meu Tio disparou: "CUANTO MENO BULTO MÁS CLARIDAD" (quanto menos gente mais claridade).
Empreguei diversas vezes esse dito espanhól que tem inúmeros desdobramentos.
De fato a solidão é necessária, se aplicada como um lenitivo. Ela não me desagrada e muitas vezes se faz imprescindível. Longe de aglomerados e de confusas retóricas, a "claridade" nos conduz à um mundo interno mais rico. E foi assim que sózinha aprendi mais uma nessa vida...