quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SENSAÇÕES

Abri os olhos. O piso estava frio. Estou com alguma sensação. A ducha forte e gelada. O café sem graça. A porta rangeu. O trânsito um horror. O homem com a marmita. O primeiro Bom Dia do dia. O velho levanta os olhos. Digito um memorando. O lápis tá sem ponta. Olho para o infinito. Coça meu braço. Sigo no teclado. Algumas palavras vazias no ar. O banheiro ocupado. Fumaça no ar. A mesa está uma baderna. Sorrio para alguém. Tem uma mancha no vidro. O balcão está vazio. Mastigo uma bolacha.Telefone tocou.O relógio continua lá. A tinta acabou. A moça com a vassoura. Cheiro de ovo. A planta seca. Nada mudou.Unhas pintadas. Pastas coloridas. Música na cabeça. Roupa amassada. Atravesso o saguão. Dá o aviso. O barulho chegou. Alguém me escuta. Papel ofício. Estou com pressa. O estômago ronca. Relatório pronto. A conversa não flui. Viro a página. Silêncio. O sol entra. Está tudo molhado. Assino. Leio o livro. Ela está preocupada. A receita do médico. O cachorro late. Foi ríspido. Panelas no fogo. Mulheres ansiosas. Óculos na mesa. Se acham lindos. Recortam. Acendo as luzes. Estaciono mal. A máquina funciona. Profusão de cores. O lixo está cheio. Letras maiúsculas. Passo um creme. Engato a marcha. Desnecessário. Penso na minha mãe. Troco a escova. O vizinho não existe. A fruta está mofada. Minha bolsa cheia. A tv desligada. O vazio chegou. Prato sujo. Fecho a janela. Celular toca. O espelho engana. Sumiu. O lençol está limpo. Muitas saudades. A moeda está aqui. Me sinto só. Processo findo. Cimento no muro. A freada. Estão felizes. O cabelo embaraça. Penso, penso. Novamente o cheiro. Rádio alto. O sósia do Roberto Carlos. Chegou alguém. A palha de aço está enferrujada. A água está fresca. Não consigo. Papai está magro. Atravessou. Gordura no fogão. Documento sumiu. Não olhei para o céu hoje. Respirar dói. A conta está paga. Bola na trave. Está perfeito. Só amanhã. No momento não interessa. Chega acabaram as sensações. A porta fechou.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Escatológico


Quem nunca proferiu ou disse algum que atire a primeira pedra. Devem saber à que me refiro: aos sonoros, eloqüentes e providenciais palavrões.
Sequer consigo imaginar alguém dando uma topada com o dedão e exclamando apenas: AI, AI AI!!!! Que dorzinha querido !!!!
Infelizmente ou felizmente existem situações onde apenas cabe uma "palavra" que define com grande propriedade a emoção, dor, surpresa , felicidade e alívio. Essa "palavra" com amplo espectro deve ser usada com uma certa parcimônia, aliás tudo que é realmente bom e eficaz deve ser usado a conta gotas.
Na batida do dia, acabamos fazendo uso desse precioso recurso da língua, nem sempre bem entendido, nem sempre aceito, mas muito bem vindo pelo menos para quem está dizendo.
É um alívio poder usar o "palavrão", o uso dele, quebra muitas vezes com a seriedade da coisa e confere leveza e informalidade a determinados momentos.
Entre amigos, então, é uma forma muito popular de comunicação e como estamos na era da comunicação, o palavrão deve e está muito em voga.
Não faço aqui uma ode a vulgaridade ou a violência verbal, apenas observações domésticas, despretensiosas.....
Passamos ao Sr Presidente LULA :
Em um dos seus informais discursos soltou "um" com grande eloquência referindo-se a situação do povo brasileiro, em suma ele disse que iria tirá-los da ........(escremento humano).
Também recentemente um médico relatando, em rede nacional, a condição de saúde da Sra Hebe nunca morre Camargo disse aos repórteres de plantão que a simpática senhora estava com ...........(diarréia), rapidamente o repórter fez a correção: Trata-se de um desconforto intestinal. Desfeito o deslize do nobre médico.
Mas que ficou engraçado ficou!!Duvido que alguém não tenha se surpreendido e dado uma gargalhada.
Reparem que até as substituições no texto ficaram assim, digamos pouco graciosas.
Francamente, temos que encarar a utilidade do popular palavrão. Nem tudo são flores, nem sempre o céu está azul, o mar realmente não é de rosas então, aí lá vai mais um palavrão!
MAS, ENFIM CERTAMENTE É TUDO MUITO HUMANO......

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"CALAMARES EN SU TINTA"

Na verdade comecei a conhecer os prazeres da boa comida desde muito jovem, embora comesse muito pouco ou quase nada. Esse paradoxo, porém não limitou meu gosto pelos variados e maravilhosos sabores apresentados em sua maioria pela minha mãe.
Tudo começou na casa dos meus avós, onde mantinham, digamos, um refinado gosto pela boa mesa. Embora a casa fosse simples, meu avô não media esforços para manter uma mesa farta e variada.Foi através dessa experiência vivenciada pela minha mãe na casa de seus pais e mais tarde trazida até minha geração que conheci desde o trivial muito caprichado até as versões mais elaboradas. Das leguminosas aos grãos, das diferenciadas carnes aos peixes. Alcachofras e pimentões recheados, abobrinhas, berinjelas preparadas nas suas mais variadas versões, massas com molhos diversificados, além de carnes como cabrito, cordeiro, coelho e também bacalhau, mariscos e outros peixes e frutos do mar. Isso sem falar no milenar azeite,nas azeitonas, queijos e todo tipo de especiária e condimento. Meu avô, segundo a família, mantinha um forno no fundo do quintal de onde se originavam deliciosos pães, pizzas e outras invencionices culinárias; o velho Raphael gostava e muito, além é claro de ser exigente com minha avó que se desdobrava no cuidado com a casa, a filharada e em atender os caprichos culinários do italianão tosco, de grande coração.
Não me lembro muito do meu avô, apenas reproduzo aquilo que chegou até meus ouvidos, coisas relatadas pela minha mãe, meus tios e outra pessoas que desfrutaram de sua companhia.
Mas, uma receita em particular trago como recordação, porque naquele dia ocorreu um evento marcante na família:
A primeira vez que comi “calamares em su tinta” (lulas na tinta) foi numa dessas reuniões de família feitas na casa de minha avó. Minha tia (deliciosa figura) havia aprendido a receita na feira com uma senhora espanhola e resolveu testá-la junto á Paglucada. Essa receita entrou pro universo culinário da família, embora não tenhamos nenhum vínculo com a Espanha, exceto o meu tio que era filho de espanhóis e meus primos evidentemente eram netos.
Em um desses encontros familiares,o meu tio Bada (para íntimos) o caçula fanfarrão, brincando de girar sua "Petita", apelido da minha priminha, que deveria ter uns dois anos na época, acabou acidentando a menininha quebrando seu bracinho.
Pronto!!!! A Hecatombe estava instalada. Só me lembro de todo mundo condenando a imprudência marota do meu tio. Mas, como tudo sempre acaba bem nas famílias amorosas e unidas esse fato também entrou para o rol de boas lembranças, pelo menos para mim.
Quanto as lulas, é um prato de relativa facilidade no preparo e de grande prazer em devorá-lo.
E assim foi feito naquele dia e tantos outros, onde ainda podíamos reunir a todos.
Agora muitos dos personagens também são lembranças, saborosas lembranças dessa apetitosa família.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

ROTINA


Viajar é bom, revigora, areja e principalmente relaxa. Viajar demanda desprendimento, não há hora para nada, apenas para "VIAJAR", contemplar o novo, o inusitado, o belo. Adoro viajar, mas Deus sabe como é bom voltar pra casa, para a rotina. Hoje (talvez um pouco tarde) descobri segundo a minha lógica, nem sempre tão lógica, que também a rotina é necessária e faz bem, vejamos porque:
Cientificamente sabemos que o corpo mantém ciclos rotineiros ou regulares; ciclo do sono, digestório, hormonal, celular etc,etc, etc. Quando estamos vivendo na rotina não nos apercebemos o quanto importante ela é, apenas temos a nítida impressão que ela devora nossos sonhos, parece que vivemos numa gosma grudenta que aprisiona, quando isso não é toda a verdade.
De fato a rotina também tem seus méritos, nos traz equilíbrio, disciplina e porque não liberdade.
Liberdade como sabemos se conquista com método, com movimentos rotineiros e muita disciplina, contudo é preciso ter uma certa experiência para ter a devida noção e extensão da liberdade. Passamos os verdes anos gritando por ela, mas só a conquistamos quando empreendemos trabalho. Não um trabalho formal, mas sim de um processo que demanda um rotineiro e árduo trabalho emocional e diga-se em terreno fértil, da semente, da frágil muda, da pequena árvore até o amadurecer do fruto. Daí já se configura rotina, uma ordem universal, será isso mesmo? Também não sei, só sei que estou feliz pra caraca em voltar para casa, para minha rotina.
Posso concluir, com a mesma alegria da conquista da minha liberdade que rotina descansa, e é bom também.
Isso não é papo de véio não, porque quando eu chegava das minhas viagens há anos atrás adorava deitar na minha caminha e desfrutar do aconchego da casa dos meus pais.
É isso aí!!!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dona Zey



D. Zey é uma dessas mulheres altas, imponentes com grandes olhos azuis. Aliás azul é como ela vê o mundo ou deveria. D.Zey é de proporções generosas, generosidade que também partilha nas conversas, na compreensão do universo e do próximo.

D.Zey é sutil em suas observações, pode caminhar por sobre ovos porque é dona de um cuidado que ganhou com a rica experiência da vida.
A vida para D.Zey também lhe foi generosa em acontecimentos diversos, todos inusitados, desde os verdadeiramente dramáticos até os românticos. D.Zey demora mais arrisca, porque acredita, acredita sempre!!
D.Zey passa uma mansidão ímpar que preenche os espaços sedentos de tranquilidade.
Lê sempre e muito seja em português ou francês como era de se esperar de uma fina criatura. Sua leitura também é providencial em especial o Diário Oficial, (até rimou) que tornou-se no ocaso da profissão sua tarefa que cumpre com muita diligência.
D.Zey sonhou em ser freira, carpinteira, artista plástica, mas os revezes da vida lhe fez melhor, lhe fez: MESTRE.
Pena que D.Zey não foi minha mestra, a conheci já no deslinde da missão.
Não tem importância não D.Zey, foi um imenso e verdadeiro prazer conhecê-la.

Ps:Continua sendo um prazer.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Virada do Ano

Graças á Deus, todo o Ano é a mesma coisa. Sinal que a vida flui sem grandes atropelos, para mim que gosto de comodidade é muito bom que isso ocorra por anos a fio....
Mas, vou contar para vocês que esse "Ano" aconteceu algo realmente "Novo".
Bom , resolvi cortar o cabelo do meu filho, não se espantem , aqueles que me conhecem sabem que não tenho nenhuma habilidade manual , na verdade levei-o ao cabelereiro. Pedi ao rapaz que mudasse o corte, tirando aquele aspecto de pequeno príncipe, é que o moleque tem um cabelinho muito liso, pretinho e não sei porque cargas dágua resolvi cortar o cabelo do meu grilinho falante, Ah!!! se arrependimento matasse....
Bom, o menino relutante começou a se contorcer na cadeira, aliás a cadeira era em forma de moto e fica enfrente á uma tv de plasma passando filmes infantis. Nem isso o acalmou ou distraiu, na verdade acho que já estava prevendo a miséria. Não bastasse, pedi que usasse a máquina para fazer o contorno na cabeçinha do filhote, infelizmente e com a colaboração do modelo, o garoto dono de um lindo cabelinho saiu parecendo um pintinho molhado recém saído do ninho.
Saí do shopping com o coração em pedaços, drama de mãe, e aprendi mais uma lição: Cortar cabelo masculino só na presença do pai que entende melhor dessa empreitada. Eu deveria mesmo ter mantido a tigelinha, que era tão graciosa aos meus olhos de mãe, é claro!
Enfim, cabelo cresce...
Outro fato digamos não muito agradável foi justamente na hora da virada, dizem que merd.... dá sorte, acho que esse ano em especial vou ter de sobra!!! Passei pelo menos das 24h de 2009 até os 10 primeiros minutos de 2010 no banheiro. Tive um certo constrangimento, mas a necessidade ou melhor a manifestação fisiológica falou mais alto e parece que dessa forma coloquei todas as porcarias de 2009 para fora.
No mais, como já disse, tudo ocorreu do mesmo modo: família reunida, fartura na mesa, boas bebidas, papo furado de monte, a renovação de velhas esperanças, e os já manjados votos de um Feliz Ano Novo !!!!
Assim espero.... embora meu marido tenha me falado que merd.. não é um bom sinal , contudo mesmo prefiro pensar o contrário.
Até a próxima virada.