sábado, 23 de outubro de 2010

PERNÓSTICA


Conheci a tal pernóstica, em uma dessas tardes modorrenta (como diria meu finado sogro), estávamos todos meio sonados. A figura entrou parecendo o carro da família Adams, com aquela nuvem negra em cima e acelerando. O departamento ficou em polvorosa!
Ouvia-se muitas coisas sobre ela: a palavra final cabia à ela, ela sabe tudo, ela é observadora, ótima profissional, impecável administradora, enfim criou-se uma aura de perfeição para a personagem. Tinha até um certo receio em encontrá-la, mas também uma expectativa em conhecê-la.
Refeita do susto em ver aquela, digamos, espaçosa senhora, passei as observações.
A mulher parecia uma betoneira em um jardim de tulipas, esbravejando com tudo aquilo que acreditava estar incorreto, jamais admitia estar equivocada, estava acima de tudo e principalmente de todos nós. Nos lançava olhares por cima dos óculos. Extremamente melindrada com qualquer comentário ou sugestão contrária as suas idéias. Era pura TPM.
Montanhas de papéis voavam quando ela se movia, também tenho que admitir que o lugar não era lá muito organizado, mas funcionava.
A pernóstica cansada da passagem teatral, sentou-se à frente de uma das máquinas do escritório(pc) e o suor a correr-lhe, parecia estar em transe, não se mexeu durante alguns segundos, depois metralhou inúmeras perguntas.
No intervalo entre um perdigoto e outro, que caia no meu rosto primaveril, consegui fazer uma intercessão:
Senhora, está salvo em algumas pastas aí no micro, basta verificar. Senti, então que o mundo havia desabado:
A mulher sequer sabia ligar o monitor, quanto mais encontrar um documento na máquina. Mais tarde, soube que mal sabia digitar.

Até hoje, não sei como continuo no cargo, afinal desmantelei as muralhas da poderosa SUPER PERNÓSTICA, despretensiosamente, é claro!
E vejam só, era uma sumidade....

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"CRIANÇAS GOSTAM DE FAZER PERGUNTAS SOBRE TUDO, MAS NEM TODAS RESPOSTAS CABEM NUM ADULTO"
Arnaldo Antunes

sábado, 2 de outubro de 2010

DESPRETENSIOSA NA TV




As linhas que se seguem é a mais pura realidade e todos os personagens reais.


"Seria finalmente meu pretensioso momento de glória andando pelo red carpet, loura, lânguida e FAMOSA. (fama é tudo, diria um amigo bicha)"







Dia desses, fui procurada por um produtor de tv. A princípio achei que fosse uma piada, relutei um pouco, mas diante da insistência e a natural curiosidade, superei minha timidez e aceitei receber o tal produtor.
Antes contudo,verifiquei a veracidade do interesse e por que cargas dágua queria tanto conversar informalmente comigo.
O programa em verdade confesso é de um jornalismo inteligente, dinâmico, mas não popular. O tema tratado: A origem da vida, vaaaasto assunto.
O jornalista passou a descrever o que seria minha participação em um contexto da maternidade vivida por um casal de adolescentes (já sabem que não sou eu), outro que vivia a inseminação in vitro, e claro finalmente a minha figura maternal quarentona. Iria expor a minha condição de primegesta idosa. Iniciada a conversa, passou a perguntas rotineiras da minha tardia maternidade, buscando saber , creio eu, se ela fugia do contexto habitual de qualquer mulher que se propõe a ser mãe e amar aos 15,30,ou 50 anos.
Constatado a normalidade ou 'paranormalidade' do meu bom humor, vitalidade e diriam alguns coragem, houve a decepção. O rapaz, disse claramente que o diretor do programa buscava alguém, talvez com um perfil mais envelhecido não só no fenótipo como também no genótipo.
Imaginei cabelos desgrenhados, crescidos e brancos, dentes amarelados, rosto vincado pela árdua lida da maternidade e reclamando da vida e pensando: que azar, tão velhinha e agora um guri arteiro para criar.
Achei engraçado, inversa sempre foi a minha ideologia: Coitada tão jovem com o mundo a seus pés e agora com um boca aberta chorando ou mamando para criar.
Bom, talvez, quando me procuraram, estivessem convencidos de que se tratava de uma maternidade extra terrestre, ou ainda uma mãe com três peitos ou com orgão sexual na horizontal, quiça....
A televisão tem dessas coisas, sempre em busca do bizarro, afinal o show tem que continuar.