sábado, 18 de junho de 2011

TRUTAS




Existem algumas coisas que uma jovem senhora, como eu, deve manter no esquecimento. Mesmo assim, algumas passagens da adolescência, que vivi ao lado das minhas companheiras na Guerra e na Paz merecem ser revividas. Paixões avassaladoras, depressões abissais e segredos inconfessáveis compartilhados intensamente entre nós.
Ceci, a meiga portuguesinha branquela, pé de santo, todo mundo chegava e dava um beijinho e Dinah a magrelinha engajada, brasa encoberta sempre acompanhada de um cabeludinho intelectual.
Aliás, todo o namoradinho que elas arrumavam, eu acabava de alguma forma sendo vítima das malfadadas baladas como podem ler.
Na volta das noites brilhantes e agitadas e outras nem tanto, Cecília sempre que podia optava em comer, enquanto Dinah e eu, nos apressávamos em tomar banho.(as magrelinhas, comer pra quê, né?)
Andávamos juntas pelas ruas, festas, bares, algumas viagens e “pasmem”: Centenas de paqueras em nossos corações de eterno flerte; garupa de moto; leituras, teatro e cinema alternativo.
Além do universo acadêmico que imaturamente aos 17 anos já fazia parte da nossa rotina; transitamos por dezenas de lugares e eventos bem característicos da época.
A grana era curta, mas a agenda...Agenda cheia de segunda à segunda, com chuva ou sol, frio ou calor, lá estávamos nós três Mosqueteiras: uma por todas e todas por uma.
Sesc Pompéia com a Fábrica do Som onde foram revelados grandes nomes do rock nacional(barão vermelho; cazuza; titãs); Queen no Brazil (1º show internacional de rock no Brasil) Show do Raul Seixas no Palmeiras; Reencontro do festival de Águas Claras; dançamos no Radar Tantã; Clash; Rose Bombom; Madame Satã e outros;
Caminhamos pelo bexiga na 13 de maio e em Santo André na Feirinha hippye; Zero Hora; Sorveteria Sem Nome; e onde mais havia festa e gente pra trocar um furado. Sem contar coisas que já não lembro mais, infelizmente...
Bom, teve uma vez que havíamos combinado com a galerinha (uns trinta micróbios) de fazermos trilha em Paranapiacaba (área de preservação de Santo André), enchemos um vagão de trem e fomos felizes até nosso destino.
A Dinah havia arrumado um namoradinho e não sei por que cargas dágua, a roupa de banho do menino foi parar na minha mochila. Foi o suficiente para uma verdadeira hecatombe doméstica, minha mãe que não aliviava em nada, pegou pesado falando uma série de coisas desabonadoras sobre a minha já arregimentada moral, acabei mal sem chance de explicar que o calção era de um amigo.
Aprendi que não se deve julgar, embora todas as provas apontassem contra mim.
Hoje, após 2 décadas, onde a liberdade foi substituída por responsabilidade e cabelos escuros por brancos, resistimos em nossa cumplicidade ainda que claudicante os eventos.


Afinal, uma vez mosqueteira sempre mosqueteira.