Na verdade comecei a conhecer os prazeres da boa comida desde muito jovem, embora comesse muito pouco ou quase nada. Esse paradoxo, porém não limitou meu gosto pelos variados e maravilhosos sabores apresentados em sua maioria pela minha mãe.
Tudo começou na casa dos meus avós, onde mantinham, digamos, um refinado gosto pela boa mesa. Embora a casa fosse simples, meu avô não media esforços para manter uma mesa farta e variada.Foi através dessa experiência vivenciada pela minha mãe na casa de seus pais e mais tarde trazida até minha geração que conheci desde o trivial muito caprichado até as versões mais elaboradas. Das leguminosas aos grãos, das diferenciadas carnes aos peixes. Alcachofras e pimentões recheados, abobrinhas, berinjelas preparadas nas suas mais variadas versões, massas com molhos diversificados, além de carnes como cabrito, cordeiro, coelho e também bacalhau, mariscos e outros peixes e frutos do mar. Isso sem falar no milenar azeite,nas azeitonas, queijos e todo tipo de especiária e condimento. Meu avô, segundo a família, mantinha um forno no fundo do quintal de onde se originavam deliciosos pães, pizzas e outras invencionices culinárias; o velho Raphael gostava e muito, além é claro de ser exigente com minha avó que se desdobrava no cuidado com a casa, a filharada e em atender os caprichos culinários do italianão tosco, de grande coração.
Não me lembro muito do meu avô, apenas reproduzo aquilo que chegou até meus ouvidos, coisas relatadas pela minha mãe, meus tios e outra pessoas que desfrutaram de sua companhia.
Mas, uma receita em particular trago como recordação, porque naquele dia ocorreu um evento marcante na família:
A primeira vez que comi “calamares em su tinta” (lulas na tinta) foi numa dessas reuniões de família feitas na casa de minha avó. Minha tia (deliciosa figura) havia aprendido a receita na feira com uma senhora espanhola e resolveu testá-la junto á Paglucada. Essa receita entrou pro universo culinário da família, embora não tenhamos nenhum vínculo com a Espanha, exceto o meu tio que era filho de espanhóis e meus primos evidentemente eram netos.
Em um desses encontros familiares,o meu tio Bada (para íntimos) o caçula fanfarrão, brincando de girar sua "Petita", apelido da minha priminha, que deveria ter uns dois anos na época, acabou acidentando a menininha quebrando seu bracinho.
Pronto!!!! A Hecatombe estava instalada. Só me lembro de todo mundo condenando a imprudência marota do meu tio. Mas, como tudo sempre acaba bem nas famílias amorosas e unidas esse fato também entrou para o rol de boas lembranças, pelo menos para mim.
Quanto as lulas, é um prato de relativa facilidade no preparo e de grande prazer em devorá-lo.
E assim foi feito naquele dia e tantos outros, onde ainda podíamos reunir a todos.
Agora muitos dos personagens também são lembranças, saborosas lembranças dessa apetitosa família.
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PRA QUEM TÁ DE REGIME ISSO É UMA AFRONTA!
ResponderExcluirAGORA VOU CORRER PARA COZINHA, DAR UMA BESLICADA.KKKKKKKKKKK
...família reunida em torno de uma mesa...Santa Ceia... Santa Gula... Prazeres de quem tem a felicidade de manter laços tão importantes pra vida... Você desta vez foi o maître (ou a maitresse? ...vou verificar depois) que trouxe pra mim um néctar dos deuses,um alimento para o meu corpo,minha imaginação e minha alma. Merci... Salue! Salute! (Rosely)
ResponderExcluirOi Madrinha!
ResponderExcluirMinha vó adorou o texto:
"Lembrei o meu passado, família reunida, gargalhadas, alegria pelo fato de viver, típica família Italiano, e claro não esquecendo do garrafão de vinho do vô nono"
Muito bom!
Beijos!
Te amo!
Huuuummmm!!! Eu lembro muito bem das lulas e do cabrito que sua mãe fazia e que você aprendeu à risca... Muito bom!! Edna
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