INIMIGO EU

Se algum dia perguntarem se eu tinha algum inimigo, algum desafeto, já podem responder que ao menos que eu saiba, declaradamente esse inimigo SOU EU. Eu que deflagrei tanto sofrimento inútil, medo, tristeza, náuseas, ansiedade, noites em claro, melancolia, dores e angústia de quem tem em si uma filigrana de drama.

Arrastou-se durante décadas, até perceber como eu me saboto todo o tempo. Quanto mal eu faço a mim mesma, mas paradoxalmente agora sei como lidar com o meu grande inimigo, ou melhor com a minha grande inimiga.

Peleja conviver com o inimigo, que por vezes camuflado,torna-se companheiro, amigo e passamos a acreditar que viver no caos, sob a égide do medo, é suportável.

Na verdade, ainda aprendo algumas táticas e estratagemas, momentos certos de atacar e recuar. Contudo, a vigília é uma constante que tira a minha paz, perturba a minha vida, embota os meus pensamentos, suga a minha energia vital. Esgota.

Em muitos dias a distância do riso para lágrima é apenas uma pulsada do coração. Da razão para a paixão, um suspiro. Do enfrentamento para o medo, uma piscada.

Somos uma caixa hermética que ninguém além de nós mesmos conhecemos seu conteúdo, mas podemos deixar o sol lamber seu interior, queimar o mofo espantando os fantasmas.

A certeza da solidão um grande equívoco, o poeta Agenor consagrou que "a solidão é para quem fica escondido fazendo fita".

O passo é lento, duro, sofrível como uma estrada sinuosa ladeada de paisagens exuberantes, mas de destino incerto. A vida é assim mesmo, incerta. Se tento controlar, vem o descontrole.
Aceitar que o desequilíbrio é o equilíbrio, ainda é uma alternativa porque o caminho continua.

Não se é unanimidade em quase nada. Não se é tão bom, tão bonito, tão perfeito, forte. CRISTO QUE O DIGA.
Enfim, nada, nem ninguém pode lhe fazer mal, exceto se você permita.