Naquele dia parecia estar dentro de um dos livros de Érico Veríssimo, o fantástico Incidente em Antares.
Amanheci com uma sensação estranha no peito, angustiada, com medo, sei lá. Ainda na cama o telefone tocou e uma prima avisa que um tio havia deixado essa, subido no telhado, ido para os céus enfim.
Já havia uns meses que estava com meu pai adoentado e alguns dias que ele morava conosco. Permeava um clima de apreensão e cuidados com sua saúde, embora o velho, ressalte-se,jamais emitiu um muxoxo qualquer em razão da sua precariedade física. Contrariamente,como era de se esperar manteve-se sereno e otimista. Ama a vida.
Durante algumas horas fiquei hesitante entre ir ou não ao velório. Velório é algo que me causa desconforto, nunca sei para quem olhar, como me dirigir aos familiares e pior que isso me sinto como se eu mesma estivesse sucumbindo. É horrível.
Minha mãe também não gostava dessas coisas; funeral, enterro acredito que herdei isso de família.
Minha mãe também não gostava dessas coisas; funeral, enterro acredito que herdei isso de família.
Como se não bastasse, na hora do almoço, o meu velho recebe uma ligação de um amigo que noticia o falecimento do seu pai, constato então que realmente o dia não iria ser fácil. Uma nuvem negra pairava sobre minha cabeça.
Meu papai, sabendo da minha relutância em comparecer a esse tipo de "evento" permanece em silêncio, mas sei que ele com sua educação mais conservadora, considera relevante a presença de algum membro da família.
Então, sem pensar muito, me prontifiquei a representá-lo junto aos amigos e familiares dos finados. Curiosamente os velórios eram lado á lado e lá fui eu reticente com um pé aqui e outro há milhares de quilômetros de distância que é onde queria estar.
No velório do tio durante o palavreado de uma senhora que aos céus encomendava-lhe a alma, passei a sentir uma sensação de paz e compreensão existencial.
(despretensiosamente, é claro)
(despretensiosamente, é claro)
Depois, dirigi-me ao velório vizinho, procuro o amigo do meu pai, o vivo e não o morto, e qual o quê, me deparo com uma figura de olhos bem azuis que vertiam muita água e um bafo de pinga que só vendo. Fico penalizada, agora pelos dois: o vivo e o morto.
Findado os protocolos não havia mais sentido na minha presença ali e furtivamente alcancei aliviada a rua. Já no carro comecei a repisar uma promessa de Ano Novo: Esse Ano vai ser meu, nada vai me derrubar.
Aí ao invés de voltar para casa sorumbática macambuzia, me dirigi ao salão de cabelereiro e me deixei levar ouvindo prosopopéia para boi dormir e outras futilidades.
Abandonei os cabelos desgrenhados e as olheiras que concorriam com os defuntos. Repentinamente a nuvem negra se dissipou dando lugar a um azul igualzinho aos olhos do pinguço.
Sobrevivi...
Abandonei os cabelos desgrenhados e as olheiras que concorriam com os defuntos. Repentinamente a nuvem negra se dissipou dando lugar a um azul igualzinho aos olhos do pinguço.
Sobrevivi...
QUE SAUDADES SUSSA!!! Hahahahha, qdo para para ler seus textos, entro neles de tal jeito que até parece que vc está na minha frente me contando, hahahhahha, mto bom :D
ResponderExcluirATT COXINHA
Assistindo a um filme que retratava a guerra da Bósnia, tatuado estava na testa de um militante a seguinte frase; MORRI NO DIA EM QUE NASCI. Não me lembro de nenhuma frase que tenha feito tanto sentido para mim!!! Pode parecer sombrio ou até mesmo indicar que estou para baixo, isso não é verdade; seguindo portanto a minha morte posto que não é vida, confesso que nada me atrai tanto, como a morte intermediaria, pois essa me leva de volta a vida. Tenho sim que fugir da segunda morte, essa eu não desejo pra ninguém, nem mesmo para o diabo.
ResponderExcluirMi.
Caro amigo Mi nao me refiro á morte, falo apenas das solenidades entorno do soturno evento que ocorre com a morte ou nascimento como queira.
ExcluirMinha querida menina... visto que me dei o direito de chama-la assim, já que o meu tempo de vida me permite, fico muito feliz em saber que você continua celebrando a vida...,quer seja no enfrentamento das despedidas, mas principalmente na sabedoria em transformar esses momentos em oportunidades para repensar e celebrar a sua vida! Isso é aceitação e celebração da beleza da vida, que é puro movimento.
ResponderExcluirUm forte abraço, hoje com a saudade vivificada...
ZEY