Meu menino, talvez você nunca me conheça, pelo menos, não do jeito que eu queria.
Estamos na mesma estrada, enquanto você sobe decidido e firme, eu desço embalada pela gravidade que hoje tanto me afeta.
Possivelmente, nunca falaremos sobre cinema, livros, viagens e até política coisa que nunca me agradou. Queria que me visse com pensamentos aguçados, memória impecável e a fluência entre o que se pensa e fala.
A honestidade infantil chega a ser cruel. Em uma de nossas viagens, eu me achava o máximo praticando stand up no rio e você fazia críticas contundentes a minha performance, chegando a derrubar me da prancha.
É penoso saber que podia te explicar tantas coisas sobre tudo e todos, mas esse teu momento o incapacita porque resisti a minha insistência maternal.
Na sua inexperiência dessa vida tão interessante, cheia de descobertas e informações á um toque dos dedos, desdenha da minha experiência calcada no longínquo século 20, de onde vim, cresci e me formei. Ainda assim, não me importo, certamente se lembrará das palavras ditas e de outras transmitidas no olhar de quem quer sempre vê-lo feliz.
Porque aos olhos de mãe a felicidade é possível para os filhos.
Me limito então á coisas prosaicas: alimentação, higiene e broncas sem fim, no intuito de perseguir o que considero o melhor para você, meu menino.
No entanto, hoje na mesa da cozinha trocamos experiências, lendo e ouvindo o poeta Vinicius de Moraes. Lindo.
Outro dia você me fazia companhia no banco da frente do carro e percebi que conversávamos sobre coisas.
Nossos felizes lampejos de encontros.
Você está crescendo e eu envelhecendo.
Contudo, dizem que o amor perpetua certas coisas e nossa relação é uma delas. Assim espero.
